Prof. Dr. José
Luciano de Queiroz Aires (UFCG)
Acabo
de assistir no JPB- 2ª edição, que o delegado João Joaldo Ferreira, titular da Delegacia
Seccional de Monteiro, trabalha com a hipótese de que o assassinato do
garoto, na cidade de Sumé, fora realizado por razões de rituais de “magia negra”.
Imediatamente, parei com o que estava fazendo, para publicar minha opinião
sobre o assunto. E o faço por várias preocupações políticas e éticas que o tema
demanda.
Nem
quero aqui entrar no debate semântico que implica a denominação de um rito da
Umbanda ou do Candomblé como sendo de “magia negra”, como se do outro lado
pudesse haver uma magia “menos mal”, embranquecida e revestida pela adjetivação
menos racista. O que me preocupa, nesse momento, é que o delegado e a mídia deveriam
ser mais cautelosos quando ainda se trabalha com hipótese de um crime, pois a
veiculação de uma matéria desse porte em uma sociedade cristocêntrica e
preconceituosa para com as religiões de matriz afro-ameríndias, certamente reforçará
o estigma da demonização construído historicamente sobre elas. O pior é que
muitos jornalistas e delegados sequer leram ou tem um conhecimento razoável
sobre a Umbanda e o Candomblé e, assim, sem o rigor do conhecimento científico
não podem, senão, cair no sensacionalismo que o assunto pode promover.
A
palavra de um delegado de polícia ou de um jornalista tem um poder de
autoridade no dizer, tem poder de credibilidade para muitos, pois são
apresentadas como “imparciais” e “verdadeiras”, quando na verdade se tratam de
visões de mundo subjetivas e interessadas. Não é de se espantar que, a essa
altura, muitos telespectadores já estejam comentando que uma criança foi
sacrificada em ritual de “magia negra” na cidade de Sumé, pois os consumidores
da mídia nem sempre são ativos, trapaceiros e resistentes. Assim, informações
desse tipo, num contexto de avanço da extrema direita fascista no Brasil, ajudam
a reforçar esse projeto de Brasil intolerante para com o povo do santo.
Gostaria
de dizer que há 15 anos conheço vários terreiros na Paraíba, inclusive estou
concluindo um trabalho de pesquisa, financiado pelo Ministério da Cultura,
intitulado O SEMIÁRIDO PARAIBANO TAMBÉM É AFRO-BRASIELIRO: A PRODUÇÃO DE
MEMÓRIAS DOS TERREIROS DA REGIÃO. Durante esse projeto, entrevistamos vários
babalorixás e ialorixás nos municípios de Cajazeiras, Sousa, Monteiro e Sumé e
nunca vi, nem ouvi nada referente a sacrifícios de crianças em rituais de
Umbanda e Candomblé. Portanto, se algum terreiro ou alguma pessoa que se
identifique como pai de santo ou mãe de santo sacrificou essa criança
encontrada nas matas do município de Sumé, essa pessoa precisa ser presa e responder
por homicídio conforme reza a legislação vigente, mas, para isso, o delegado e
o JPB precisam dar uma resposta à sociedade sem generalizações e com
responsabilidade e conhecimento político das religiões de matriz
afro-ameríndias.
Gostaria
de conclamar o Pai Washington, o Pai Lima e o Pai Dinei, (todos de Monteiro) e
Madame Jô, Sandra, Pai Inacinho e Antonio Graxuá, (todos de Sumé) a
acompanharem os resultados do inquérito policial e das informações midiáticas a
fim de que estes representantes de terreiros na região do Cariri não possam ser
responsabilizados por, supostamente, serem associados a comandar uma religião
que sacrifica crianças.
Repito:
vamos esperar o resultado das investigações policiais, mas desde já, caso se
confirme a hipótese do delegado, que fique bastante claro que esse tipo de
sacrifício não faz parte da Umbanda, da Jurema e do Candomblé cujos terreiros
são filiados a uma Associação de Cultos Afros. Cuidado com o que a mídia diz,
pois eles adoram matérias desse tipo para fazer sensacionalismo. Caso a
hipótese do delegado não se confirme, a equipe do JPB deveria ser acionada para
desconstruir a matéria estereotipada de hoje. A grande mídia brasileira é isso
aí: ela e você, nada a ver.
Säo informações como essas que precisam chegar a todas essas mentes globais do Brasil. Embora sabemos que näo é do interesse da grande mídia apresentar falas cono a sua, professor. Assim, continuamos nas nossas escolas, enfretando o grande desafio de ensinar para os alunos a necessidade de respeitar e reconhecer as religiões de matriz africana.Lutando todos os dias com a intolerância, discriminaçäo e racismo presentes em situações e falascomo essa dos detentores do discurso oficial.
ResponderExcluirA relação entre MAGIA NEGRA e religiões como umbanda ou candomblé foi feita pelo professor e não pelo telejornal. Sou cristão e em momento algum ao assistir o telejornal, pensei em algum pai ou mãe de santo realizando essa atrocidade. Desconheço na literatura onde é feita essa ligação entre magia negra e religiões de matriz africana.
ResponderExcluirLamento pela criança. Infelizmente ela pode ser `apenas mais uma` vítima da impiedosa humanidade.
ResponderExcluirMas o que esperar de uma sociedade na qual um pai de família se vende por um copo de cachaça? Isso não me assusta mais.
Concordo com o Robson, foi dito que: "pois a veiculação de uma matéria desse porte em uma sociedade cristocêntrica e preconceituosa para com as religiões de matriz afro-ameríndias, certamente reforçará o estigma da demonização construído historicamente sobre elas."
ResponderExcluirMas não entendo como as pessoas querem combater o que chamam de preconceito, sendo preconceituosos, concordo quando disse que foi uma atitude afobada do policial em dizer isso, e que se deve esperar o término das investigações, não sei se queria com essa publicação chamar a atenção, mas deveria ter sido melhor pensada. Lamento pela família da criança.Que Deus abençoe a todos.
É um caso para se lamentar por bastante tempo, mas acho que como o Professor Luciano relatou no texto de forma clara, a midia está se precipitando nas informações, no Jornal da Paraíba o destaque foi "SELVAGERIA E MAGIA NEGRA", um titulo muito forte e comprometedor onde estão ligando os nomes das eitas religiosas a de magia negra, absurdo. Muito bom o seu texto professor, parabens, vou publicar essa sua materia em meu site para dar uma maior divulgação no seu pensamento (http://www.amparoligado.com/)
ResponderExcluirE agora professor? as provas foram consistentes e o mal prevaleceu no uso de magia negra, imbecis que confundem tudo, mas que tem o mal na alma
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