José Luciano de Queiroz
Aires
Historiador (UFCG),
Resistência (PSOL)
Entramos
no mês de julho com mais uma grande manifestação nacional pelo Fora Bolsonaro e
o projeto político que ele representa. As ruas deram seu recado político no chão
histórico da luta de classes. Já no campo da institucionalidade, o governo vem
enfrentando os tiroteios diários da CPI da Covid, a caneta da ministra Rosa
Weber e a sombra ameaçadora de Lula. O centrão, insaciável que é, pressiona o
governo por mais espaço no Planalto cujo presidente é refém de mais de 100
pedidos de impeachment sobre os quais está sentado o presidente da câmara Artur
Lira. Para piorar a situação lá em cima, a semana começa com os áudios bombásticos
divulgados pelo UOL dando conta do esquema de “rachadinhas” no gabinete do
então deputado federal, Jair Bolsonaro. Diante desse quadro dramático no qual o
governo parece derreter como neve, o capitão cloroquina ameaça à luz do dia com
um golpe de Estado tendo Deus como o maior fiador.
Contudo,
o grosso das frações burguesas ainda está com Bolsonaro. Não confiam ainda em
Lula, apesar de seus acenos, nem conseguiram emplacar um nome da direita
liberal com algum grau de popularidade nas pesquisas. Ao que tudo indica,
Luciano Huck sairá do caldeirão para o domingão, sendo rifada sua ideia de
disputar o planalto. João Doria, apesar de toda politização em torno da vacina,
parece não ter votos além de São Paulo e Mandeta não tem mais que 3% nas
pesquisas eleitorais. O finado Sérgio Moro, articulador central do Golpe de
2016, desceu para o subterrâneo da política juntamente com as águas sujas da
“vaza-jato”. Restou, aos defensores do liberalismo e sua direita clássica
saudosa dos anos 1990, tentarem emplacar o nome do governador gaúcho Eduardo
Leite.
Para
tanto, ninguém melhor do que Pedro Bial, ideólogo burguês da Rede Globo, para
apresentar o nome da “terceira via” travestido com as cores da bandeira do arco
íris. E assim, Eduardo Leite fez uma encenação política ao assumir publicamente
sua orientação sexual que, aliás, não pegou muita gente de surpresa Brasil a
fora. O “governador gay” que a Rede Globo oferece aos eleitores como solução
para fugir da polaridade entre o bolsonarismo e o lulismo governa as terras
gaúchas sob a égide do neoliberalismo, do privatismo, do ajuste fiscal e do
arrocho sob os servidores públicos. Desse modo, a imagem de um tucano colorido
e defensor dos direitos humanos contradita com a essência do projeto político
que de fato ele representa.
Por
falar em tucanos, pudemos vê-los pela Avenida Paulista durante as manifestações
do 3 de Julho desfraldando a bandeira de Bruno Covas, mais um cadáver insepulto
da politica brasileira. Resolveram embarcar no Fora Bolsonaro e colar na
esquerda em seus atos de rua. Porém, sua recepção não foi tão calorosa por parte
do PCO que resolveu ir para o confronto com o partido golpista de 2014.
Na
linha do confronto, os black blocs atiraram sua ira contra as agências
bancárias e incendiaram a cidade, ato esse, reprovado pela mídia burguesa
tolerante apenas de manifestações “pacíficas” e também pelo Presidente da
República que se aproveita para desqualificar o conjunto da obra e ainda
ameaçar, mais uma vez, com as bravatas golpistas.
Desse
resumo do último final de semana, creio que o conjunto da esquerda brasileira
tem uma responsabilidade histórica a cumprir e não podemos deixá-la escapar no
instante de uma relâmpago. Dessas tarefas, algumas são para ontem:
v Continuar
nas ruas fortalecendo e consolidando a frente de esquerda pelo Fora Bolsonaro
ainda em 2021. Frente essa que também deverá apresentar um programa da classe
trabalhadora para as eleições de 2022;
v Não
quebrar a unidade na luta, de modo a envidar todos os esforços para acompanhar
o calendário de atos definido pela Coordenação Nacional pelo Fora Bolsonaro;
v Rechaçar
qualquer movimento na esquerda em direção a construção de frentes amplas nas
ruas e nas urnas com partidos burgueses e golpistas.
v Por outro
lado, não devemos, em hipótese alguma, agredir, censurar ou impedir a presença
tucana marchando nas ruas conosco, desde que mantida a independência total em
relação ao projeto que eles representam. Não devemos descartar forças políticas
e sociais antifascistas que se somem pelo Fora Bolsonaro como tática para esse
momento decisivo, pois se Bolsonaro e o bolsonarismo estão em crise isso não
significa que estejam derrotados a priori;
v Denunciar
e delimitar nossa diferença em relação à tática black bloc, não porque somos
contra a violência revolucionário, mas porque as condições para uma revolução
não estão dadas na conjuntura. Dessa forma, temos que considerar que os atos
estão sendo realizados em plena pandemia, onde, sequer o conjunto da militância
possa arriscar quebrar a quarentena social. Por isso, acreditamos que os atos
massivos, ressalvados todos os cuidados sanitários, em formato de caminhada
e/ou carreata serão mais adequados para esse momento. Sem falar que o governo e
a mídia burguesa se legitimam nesse tipo de tática black bloc levando água para
o moinho golpista da “segurança nacional”.
v Por
fim, o confronto de rua não está descartado para um futuro (quem sabe próximo?)
- de combate ao neofascismo. Para tanto, a esquerda deve se organizar no
sentido da autodefesa, das liberdades democráticas e do combate ao fascismo do
século XXI. Espero que não possamos chegar a esse momento.