segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

PREFEITO DE CAMPINA GRANDE PROIBE CARNAVAL DE RUA EM 2024

 



Luciano Queiroz (Historiador UFCG e Resistência-PSOL/PB)

No último dia 12, foi publicado no Semanário Oficial de Campina Grande o Decreto 4.813, assinado pelo prefeito Bruno Cunha Lima, proibindo a realização de carnaval de rua na cidade. O decreto reserva o período entre os dias 08 (quinta-feira) e 13 (terça-feira) para a realização exclusiva dos “eventos ecumênicos” relacionados ao “Carnaval da Paz”. Estabelece que as áreas em torno do Açude Velho, Parque da Criança, Parque do Povo, Bairro do Catolé, Centro da cidade, Bairro Santo Antônio, Bairro do Jardim Tavares, Bairro do São José, Bairro da Palmeira, Bairro da Liberdade, Bairro do Alto Branco e Estação Velha estão reservadas apenas para os eventos de cunho religioso.

Assim, oferece parte da cidade para quem pretende ficar em Campina Grande discutindo o sagrado e expulsa das ruas foliões, blocos carnavalescos tradicionais e quem pretende ficar em Campina no lado profano do calendário. Podem até brincar, desde que fora do calendário do carnaval e com a devida solicitação e autorização da prefeitura, diz o prefeito. Ou seja: brincar carnaval, fora do carnaval.

Além da benevolência religiosa em ceder a cidade ao espaço do sagrado, ainda escala funcionários públicos para trabalharem durante todo o período para a realização do tal “Carnaval da Paz”. E que se dane a laicidade do Estado! A política e a religião sempre se encontram na primeira esquina da História. E se abraçam em nome de Deus, da Pátria e do Capital!

O prefeito também coloca a guarda municipal para fiscalizar o cumprimento do decreto devendo “tomar as providências cabíveis, inclusive a comunicação policial”. Essa é a parte coercitiva do aparelho de Estado. Em parceria com o Ministério Público baixa-se um decreto proibindo a cultura popular carnavalesca e no mesmo ato de força escala uma força policialesca para reprimir qualquer iniciativa que sinalize quanto à resistência e a desobediência ao todo poderoso gesto autoritário da prefeitura.

Nada contra as pessoas que optam por passar o carnaval debatendo e se relacionando com as mais diversas formas do sagrado... desde que a festa não seja bancada pelo erário público e pelo patrocínio estatal, a exemplo da construção de um Monumento à Bíblia realizado pela prefeitura municipal no passado.

Nada contra as pessoas que optam por passar o carnaval debatendo e se relacionando com as mais diversas formas do sagrado...desde que a cidade comporte o espaço de suas ruas também para aqueles e aquelas que pretendem brincar carnaval em terras campinenses, pois aprendemos desde 1968 que é “proibido, proibir”.

O carnaval, apesar de ter se transformado bastante na História, comportando uma mercadoria de alto valor de troca no capitalismo, ainda é uma festa aberta em potencial para explodirem as contradições e resistências as mais diversas. Não estamos mais nos tempos da praça pública medieval estudada por Mikail Bakhtin, mas quero crer que ainda há espaço para que o riso, o cômico, a paródia, ainda possam fazer oposição à cultura oficial. Que ainda possamos criar uma segunda vida, um segundo mundo até a quarta feira de cinzas, até o dia em que outro modelo de sociedade seja construído com maior perenidade. Acredito que Campina Grande vai resistir. E resistir com festa nas ruas proibidas, o melhor espaço para darmos respostas à altura ao autoritarismo da oligarquia de plantão.