Luciano Queiroz (Historiador
UFCG e Resistência-PSOL/PB)
No último
dia 12, foi publicado no Semanário Oficial de Campina Grande o Decreto 4.813,
assinado pelo prefeito Bruno Cunha Lima, proibindo a realização de carnaval de
rua na cidade. O decreto reserva o período entre os dias 08 (quinta-feira) e 13
(terça-feira) para a realização exclusiva dos “eventos ecumênicos” relacionados
ao “Carnaval da Paz”. Estabelece que as áreas em torno do Açude Velho, Parque
da Criança, Parque do Povo, Bairro do Catolé, Centro da cidade, Bairro Santo
Antônio, Bairro do Jardim Tavares, Bairro do São José, Bairro da Palmeira,
Bairro da Liberdade, Bairro do Alto Branco e Estação Velha estão reservadas
apenas para os eventos de cunho religioso.
Assim, oferece
parte da cidade para quem pretende ficar em Campina Grande discutindo o sagrado
e expulsa das ruas foliões, blocos carnavalescos tradicionais e quem pretende
ficar em Campina no lado profano do calendário. Podem até brincar, desde que
fora do calendário do carnaval e com a devida solicitação e autorização da
prefeitura, diz o prefeito. Ou seja: brincar carnaval, fora do carnaval.
Além da benevolência
religiosa em ceder a cidade ao espaço do sagrado, ainda escala funcionários
públicos para trabalharem durante todo o período para a realização do tal “Carnaval
da Paz”. E que se dane a laicidade do Estado! A política e a religião sempre se
encontram na primeira esquina da História. E se abraçam em nome de Deus, da
Pátria e do Capital!
O prefeito
também coloca a guarda municipal para fiscalizar o cumprimento do decreto
devendo “tomar as providências cabíveis, inclusive a comunicação policial”.
Essa é a parte coercitiva do aparelho de Estado. Em parceria com o Ministério
Público baixa-se um decreto proibindo a cultura popular carnavalesca e no mesmo
ato de força escala uma força policialesca para reprimir qualquer iniciativa que
sinalize quanto à resistência e a desobediência ao todo poderoso gesto
autoritário da prefeitura.
Nada
contra as pessoas que optam por passar o carnaval debatendo e se relacionando
com as mais diversas formas do sagrado... desde que a festa não seja bancada
pelo erário público e pelo patrocínio estatal, a exemplo da construção de um
Monumento à Bíblia realizado pela prefeitura municipal no passado.
Nada
contra as pessoas que optam por passar o carnaval debatendo e se relacionando
com as mais diversas formas do sagrado...desde que a cidade comporte o espaço de
suas ruas também para aqueles e aquelas que pretendem brincar carnaval em
terras campinenses, pois aprendemos desde 1968 que é “proibido, proibir”.
O carnaval,
apesar de ter se transformado bastante na História, comportando uma mercadoria
de alto valor de troca no capitalismo, ainda é uma festa aberta em potencial
para explodirem as contradições e resistências as mais diversas. Não estamos mais
nos tempos da praça pública medieval estudada por Mikail Bakhtin, mas quero
crer que ainda há espaço para que o riso, o cômico, a paródia, ainda possam
fazer oposição à cultura oficial. Que ainda possamos criar uma segunda vida, um
segundo mundo até a quarta feira de cinzas, até o dia em que outro modelo de
sociedade seja construído com maior perenidade. Acredito que Campina Grande vai
resistir. E resistir com festa nas ruas proibidas, o melhor espaço para darmos
respostas à altura ao autoritarismo da oligarquia de plantão.
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