Prof. Dr. José Luciano de Queiroz Aires
Escrevo
esse texto para que fique como documento para a posteridade. Nele, quero
expressar uma posição política em relação à ameaça de fechamento do Mestrado em
História da Universidade Federal de Campina Grande. Como membro permanente do
referido programa de pós-graduação não me omitirei em tomar partido em uma
conjuntura de crise societária/sanitária tão brutal como a que vivemos.
Nosso
Mestrado foi criado em 2006 e já passou por várias avaliações na toda poderosa
CAPES sem, contudo, ter conseguido sair do conceito 3 (três). Eu não fui da
fundação, pois cheguei ao corpo docente da UFCG apenas em 2010 e, mesmo
vinculado à Unidade de Educação do Campo/CDSA/UFCG, entrei para o quadro do
PPGH como colaborador e depois membro permanente. Entre 2014/15, passei a fazer
parte da Unidade Acadêmica de História por meio de redistribuição.
Durante
esse tempo em que atuo no PPGH/UFCG não é a primeira vez que ouço falar que
nosso mestrado pode fechar e que nós é que temos que impedir essa tragédia. A burocracia
em vez de contestar o modelo draconiano e quantitativista da CAPES dos tempos
da ditadura, opta por quase crucificar a nós docentes, colocando sobre nossas
costas o peso da responsabilidade e o ônus da culpa caso não consigamos atingir
uma nota 4 (quatro). Isso em termos ditos normais já é uma aberração e uma
injustiça, pois vivemos com dedicação exclusiva fazendo atividades de ensino,
pesquisa e extensão na graduação, especialização e mestrado. Sempre tivemos um
bom número de orientandos, coordenamos grupos de pesquisa vinculados ao CNPC,
publicamos com nosso próprio dinheiro livros e capítulos de livros,
participamos de uma imensa quantidade de bancas examinadoras, fazemos pareceres
para revistas científicas, coordenamos PIBIC, PIBID, PET, PROEXT, PROBEX, etc.
Dizer, então, que a “culpa” do possível fechamento do mestrado é do corpo
docente “improdutivo”, é desconsiderar essas inúmeras atividades nas quais
estamos mergulhados o tempo todo.
Recentemente
foi enviada a tal Plataforma Sucupira do PPGH/UFCG para ser avaliada pelos
devoradores de números, apreciadores de qualis
e defensores de Lattes. Entretanto,
pela informação da atual coordenação do PPGH/UFCG relatada em reunião da
Unidade Acadêmica, há uma ameaça de fechamento do nosso mestrado caso não “retornemos”
às atividades de modo remoto. Segundo informa a coordenação, pelas conversas
com vários coordenadores de PPGH pelo Brasil inteiro, a coordenação da área de
História na CAPES e a PRPG, os mestrados que já tiraram três notas 3 não podem
obter a mesma nota, pois seriam fechados. Quanto a isso, já sabemos, embora não
seja culpa nossa. Contudo, informa a nossa coordenação que também seremos
avaliados para além da Plataforma Sucupira já enviada e o retorno remoto das
atividades é condição relevante e quase decisiva para que o programa não seja
fechado.
Nesse
caso, considero um agravante em relação à pressão que já se faz em tempos ditos
“normais”, uma vez que agora se trata de uma chantagem burocrática em tempos
difíceis de uma pandemia mundial. Mesmo assim, de acordo com um questionário
aplicado pela coordenação de graduação em História da UFCG, a maioria absoluta
dos docentes se encontra trabalhando remotamente em diversas atividades o que
depõe contra qualquer tentativa de afirmações de que os docentes não estão
produzindo conhecimento histórico. Cabe à coordenação do PPGH e a PRPG tornar
ciente e fazerem relatórios para a toda poderosa CAPES afirmando que estamos
trabalhando, mesmo que de forma precária. Cabe também a eles cobrarem bolsas de
mestrado para a turma de 2020 que está sendo pressionada a cursar disciplinas
por meios virtuais, mas sem as condições financeiras de arcarem com custos para
o desempenho do curso.
A
rigor, não sou contra fazermos uma seleção para o ano de 2021 na modalidade
virtual, desta feita, sem a necessidade da prova escrita como primeira etapa do
processo seletivo. Também sou favorável à realização de defesas de
qualificações e do trabalho final de Dissertação, desde que com anuência do mestrando
e parecer do orientador. No entanto, sou contrário ao retorno remoto das
disciplinas para os mestrandos de 2020, posição igualmente defendida para o
curso de graduação.
É
verdade que hoje a conjuntura política com um governo ultraneoliberal e
neofascista é mais dura para o enfrentamento junto à CAPES e ao MEC. Mas não
custa lembrar que durante os “tempos de ouro” dos governos de conciliação de
classes pouco se fez para alterar a forma de avaliação da CAPES contando, inclusive,
com a conivência, omissão ou pouca disposição por parte de nossos pares na área
de História que acompanham a universalização das regras de avaliação sem levar
em consideração as diversidades regionais e as condições para publicações que
se concentram nas grandes editoras situadas, sobretudo, no sul-sudeste.
Chegamos até aqui com as hierarquias funcionando e cada um fazendo seu serviço
para satisfazer a CAPES, essa deusa toda poderosa, inquestionável e dogmática.
O pior: muitos professores e estudantes viveram e vivem sendo seus devotos.
Para
finalizar, gostaria de dizer que tenho publicado capítulos de livros e
organizado livros, coordenado o PET por quatro anos, orientado e ministrado aula
a semana inteira e ainda tiro o tempo para a militância política. Para quem
gosta, basta conferir o tal do meu curriculum lattes. Sendo assim, a depender de mim e de muitos colegas que
trabalham bastante, o Mestrado em História jamais será fechado e a ele desejo
muitos anos de vida. O que não aceito é chantagem e culpabilização pelo seu
possível fechamento, tenho a consciência tranquila do dever cumprido. Acho que
o alvo do ataque deve ser à burocracia que chancela as regras do produtivismo e
não os professores e estudantes doentes e cansados de trabalhar.
Espero mesmo que não fechem nosso mestrado,
principalmente em um tempo em que se está abrindo e fechando covas para empurrar
gente chão à dentro.