quinta-feira, 25 de junho de 2020

EM TEMPOS DE PANDEMIA, MESTRADO AMEAÇADO DE FECHAR EM CAMPINA GRANDE!?

Prof. Dr. José Luciano de Queiroz Aires

Escrevo esse texto para que fique como documento para a posteridade. Nele, quero expressar uma posição política em relação à ameaça de fechamento do Mestrado em História da Universidade Federal de Campina Grande. Como membro permanente do referido programa de pós-graduação não me omitirei em tomar partido em uma conjuntura de crise societária/sanitária tão brutal como a que vivemos.
Nosso Mestrado foi criado em 2006 e já passou por várias avaliações na toda poderosa CAPES sem, contudo, ter conseguido sair do conceito 3 (três). Eu não fui da fundação, pois cheguei ao corpo docente da UFCG apenas em 2010 e, mesmo vinculado à Unidade de Educação do Campo/CDSA/UFCG, entrei para o quadro do PPGH como colaborador e depois membro permanente. Entre 2014/15, passei a fazer parte da Unidade Acadêmica de História por meio de redistribuição.
Durante esse tempo em que atuo no PPGH/UFCG não é a primeira vez que ouço falar que nosso mestrado pode fechar e que nós é que temos que impedir essa tragédia. A burocracia em vez de contestar o modelo draconiano e quantitativista da CAPES dos tempos da ditadura, opta por quase crucificar a nós docentes, colocando sobre nossas costas o peso da responsabilidade e o ônus da culpa caso não consigamos atingir uma nota 4 (quatro). Isso em termos ditos normais já é uma aberração e uma injustiça, pois vivemos com dedicação exclusiva fazendo atividades de ensino, pesquisa e extensão na graduação, especialização e mestrado. Sempre tivemos um bom número de orientandos, coordenamos grupos de pesquisa vinculados ao CNPC, publicamos com nosso próprio dinheiro livros e capítulos de livros, participamos de uma imensa quantidade de bancas examinadoras, fazemos pareceres para revistas científicas, coordenamos PIBIC, PIBID, PET, PROEXT, PROBEX, etc. Dizer, então, que a “culpa” do possível fechamento do mestrado é do corpo docente “improdutivo”, é desconsiderar essas inúmeras atividades nas quais estamos mergulhados o tempo todo.
Recentemente foi enviada a tal Plataforma Sucupira do PPGH/UFCG para ser avaliada pelos devoradores de números, apreciadores de qualis e defensores de Lattes. Entretanto, pela informação da atual coordenação do PPGH/UFCG relatada em reunião da Unidade Acadêmica, há uma ameaça de fechamento do nosso mestrado caso não “retornemos” às atividades de modo remoto. Segundo informa a coordenação, pelas conversas com vários coordenadores de PPGH pelo Brasil inteiro, a coordenação da área de História na CAPES e a PRPG, os mestrados que já tiraram três notas 3 não podem obter a mesma nota, pois seriam fechados. Quanto a isso, já sabemos, embora não seja culpa nossa. Contudo, informa a nossa coordenação que também seremos avaliados para além da Plataforma Sucupira já enviada e o retorno remoto das atividades é condição relevante e quase decisiva para que o programa não seja fechado.
Nesse caso, considero um agravante em relação à pressão que já se faz em tempos ditos “normais”, uma vez que agora se trata de uma chantagem burocrática em tempos difíceis de uma pandemia mundial. Mesmo assim, de acordo com um questionário aplicado pela coordenação de graduação em História da UFCG, a maioria absoluta dos docentes se encontra trabalhando remotamente em diversas atividades o que depõe contra qualquer tentativa de afirmações de que os docentes não estão produzindo conhecimento histórico. Cabe à coordenação do PPGH e a PRPG tornar ciente e fazerem relatórios para a toda poderosa CAPES afirmando que estamos trabalhando, mesmo que de forma precária. Cabe também a eles cobrarem bolsas de mestrado para a turma de 2020 que está sendo pressionada a cursar disciplinas por meios virtuais, mas sem as condições financeiras de arcarem com custos para o desempenho do curso.
A rigor, não sou contra fazermos uma seleção para o ano de 2021 na modalidade virtual, desta feita, sem a necessidade da prova escrita como primeira etapa do processo seletivo. Também sou favorável à realização de defesas de qualificações e do trabalho final de Dissertação, desde que com anuência do mestrando e parecer do orientador. No entanto, sou contrário ao retorno remoto das disciplinas para os mestrandos de 2020, posição igualmente defendida para o curso de graduação.
É verdade que hoje a conjuntura política com um governo ultraneoliberal e neofascista é mais dura para o enfrentamento junto à CAPES e ao MEC. Mas não custa lembrar que durante os “tempos de ouro” dos governos de conciliação de classes pouco se fez para alterar a forma de avaliação da CAPES contando, inclusive, com a conivência, omissão ou pouca disposição por parte de nossos pares na área de História que acompanham a universalização das regras de avaliação sem levar em consideração as diversidades regionais e as condições para publicações que se concentram nas grandes editoras situadas, sobretudo, no sul-sudeste. Chegamos até aqui com as hierarquias funcionando e cada um fazendo seu serviço para satisfazer a CAPES, essa deusa toda poderosa, inquestionável e dogmática. O pior: muitos professores e estudantes viveram e vivem sendo seus devotos.
Para finalizar, gostaria de dizer que tenho publicado capítulos de livros e organizado livros, coordenado o PET por quatro anos, orientado e ministrado aula a semana inteira e ainda tiro o tempo para a militância política. Para quem gosta, basta conferir o tal do meu curriculum lattes. Sendo assim, a depender de mim e de muitos colegas que trabalham bastante, o Mestrado em História jamais será fechado e a ele desejo muitos anos de vida. O que não aceito é chantagem e culpabilização pelo seu possível fechamento, tenho a consciência tranquila do dever cumprido. Acho que o alvo do ataque deve ser à burocracia que chancela as regras do produtivismo e não os professores e estudantes doentes e cansados de trabalhar.
 Espero mesmo que não fechem nosso mestrado, principalmente em um tempo em que se está abrindo e fechando covas para empurrar gente chão à dentro.