Prof.
José Luciano de Queiroz Aires (UFCG)
Temos
acompanhado pelas redes sociais a polêmica em torno da escolha da Empresa
Natura pela imagem do homem trans, Thammy Miranda, para a campanha publicitária
do Dia dos Pais. O que as forças de esquerda poderiam e deveriam dizer sobre a
temática?
Em
primeiro lugar, um intelectual marxista fiel aos ensinamentos dos pais do
materialismo histórico e do feminismo socialista russo da primeira onda, tem
por dever político e teórico, articular luta de classes com luta de gênero e
outras lutas, pois a emancipação dos 99% da humanidade deverá ser realizada com
a complexidade da análise teórica e a unificação das classes e grupos
subalternos na mesma frente de combate. Temos que lutar contra o capitalismo,
mas também contra o racismo, o patriarcado e a lgbtfobia. Portanto, os partidos
políticos e movimentos sociais e populares mistos, devem sair na defesa de
Thammy Miranda, pois isso significa o combate à transfobia.
Por
outro lado, não me parece adequado à esquerda sair na defesa da Empresa Natura,
pois o nosso engajamento deve ser com os trabalhadores e trabalhadoras desta e
de todas as empresas capitalistas. Cabe ressaltar que os empresários vivem de
extração de mais valor e superexploração da força de trabalho, muita dela,
realizada por mulheres, por negros e negras, por imigrantes e refugiados. Trabalho
sem direitos substantivos, já que as contrarreformas trabalhista e da
previdência se encarregaram de aprofundar o trabalho intermitente, sem a
garantia da aposentadoria futura e da proteção jurídica de uma legislação do
trabalho no presente.
Hoje
mesmo eu li postagens no facebook nas
quais as pessoas, na melhor das intenções, digo isso porque saíram em defesa
dos e das pessoas trans, defenderem o não boicote ou o “não cancelamento” à
Natura. Alguns até fizeram campanha incentivando o consumo de seus produtos no
dia dos pais. Embora tenha entendido perfeitamente as justificativas das
pessoas que saíram em defesa de Thammy, creio que defender a empresa
capitalista que explora homens e mulheres, não é nossa tarefa. Até porque, não
há nenhum engajamento político das empresas e dos empresários na pauta das
opressões se não fosse o lucro obtido em um mercado segmentado que tem
mercadoria para oferecer às mais diversas identidades sociais. Nesse caso, LGBT
são tratadas, ideologicamente, no capitalismo, como meras consumidoras. Na
outra ponta, dificilmente pessoas trans, lésbicas ou gays assumidos, serão
contratados no mercado quando tiver que concorrer com homens e mulheres heterossexuais
na hora da entrevista.
Outra
crítica que algumas pessoas fizeram a Thammy Miranda foi realizada no sentido
de ele ter, supostamente, votado em Bolsonaro. Nesse ponto, acredito que a
melhor saída não seria atacá-lo com discursos transfóbicos, mas
problematizarmos as razões que levaram massas de explorados e oprimidos a
optarem por um projeto político que é a sua própria destruição. A esquerda,
nesse momento de crise profunda no planeta, deverá ter a sabedoria de trabalhar
no sentido de reverter esse quadro no qual massas populares aderiram à extrema
direita.
Como
historiador socialista e marxista, deixo aqui meu repúdio a toda forma de
preconceito. Thammy Miranda é mais do que um indivíduo, é a personificação das
pessoas trans que derramam sangue nas ruas do Brasil. A essas, nós de esquerda
temos que ficar juntos, sobretudo, nos tempos neofascistas que vivemos. Meu repúdio igualmente ao sistema
capitalista, materializado, nesse caso, na Empresa Natura, exploradora do Dia
dos Pais, data hegemonicamente patriarcal e heterossexual, agora também alargada
para outras tipologias de famílias, como forma de “inclusão” pelo consumo e não
pela emancipação política. Não será defendendo esse tipo de inclusão
mercadológica e publicitária que iremos acabar com o machismo, o racismo e a
lgbtfobia no Brasil e no mundo. O capitalismo devora gente, tritura trabalho e
vomita mercadoria alienada a ser consumida. O cheiro desse tipo de perfume fede
bastante em muitos corpos.
Parabéns, Luciano. Excelente abordagem!!!
ResponderExcluirObrigado companheiro Radical. Abraços
ExcluirUm artigo necessário, para estes tempos. Parabéns Luciano.
ResponderExcluirObrigado companheiro, abraços
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